Sindicato dos Trabalhadores em Postos de Combustíveis da Bahia
/ sexta-feira, maio 17, 2024
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Gasto com gás de cozinha consome 22% do orçamento das famílias mais pobres, diz estudo

Famílias têm recorrido ao fogão de lenha com preço do gás de cozinha nas alturas. Foto: Reprodução - TV Diário - Globo
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Os gastos com gás de cozinha vendido em botijões de 13 kg comprometem 22% do orçamento doméstico destinado a serviços públicos das famílias mais pobres do Brasil, o que inclui energia elétrica, água, esgoto e telefone.

Os dados são de um estudo realizado pela consultoria Kantar, no ano passado, e que foram divulgados pela Folha S.Paulo, neste domingo (3).

O estudo da Kantar mostra também que, entre 2020 e 2021, a parcela do orçamento gasta com gás de cozinha aumentou 25% para as famílias de classes D e E. Ou seja, juntando as duas classes.

Para os mais pobres, além do custo do gás, que é o segundo maior gasto em serviços, empatado com água e esgotos, a energia elétrica é o primeiro colocado em gasto em serviços. Em 2021, a conta de luz correspondeu a 51% do orçamento de serviços nessas classes.

Quando se consideram todas as classes sociais, o gás ocupa o terceiro lugar no orçamento dos serviços básicos das famílias, perdendo para água e luz. No entanto, entre 2020 e 2021, todas as classes viram crescer a parcela de custeio com o insumo.

Amarrados ao dólar e à cotação do barril do petróleo no mercado internacional, os preços dos combustíveis no Brasil estão entre os principais vilões para a disparada da inflação.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a inflação do gás de cozinha em 2021 foi de 36,99%, muito acima do índice geral da inflação oficial, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que fechou o ano em 10,06%.

O estudo da Kantar, que sondou 4.915 domicílios em 2021, não pegou o recente mega aumento autorizado pelo governo em março nos combustíveis. No mês passado, a Petrobrás reajustou em 18,8% o preço da gasolina, 24,9% o preço do diesel, e 16,1% o preço médio do gás liquefeito de petróleo (GLP) – o popular gás de cozinha.

Esses aumentos irão pesar ainda mais na produção de alimentos e no transporte de mercadorias do país, fazendo com que a inflação, que acumula alta de 10,54% em 12 meses até fevereiro, continue em disparada e corroendo o poder de compra da população.

Neste período, os preços dos combustíveis continuam acumulando alta superior ao da inflação oficial: gasolina (+32,62%), diesel (+ 40,54%), etanol (+36,17%), gás de botijão de cozinha (+27,63), gás encanado (+26,36%) e gás veicular (38,41%).

Diante deste novo aumento, na semana passada, o preço médio do botijão de gás de cozinha de 13 kg ficou em R$ 113,63. De acordo com a ANP, o valor mais alto do gás foi encontrado na região Centro-Oeste (R$ 160), seguido pelo Sul (R$ 155), Norte (R$ 150), Sudeste (R$ 149) e Nordeste (R$ 139).

A estes custos, usar gás de botijão no cozimento torna-se, inviável, mesmo com o Programa Gás para os Brasileiros, aprovado pelo Congresso Nacional em 2021, e que estabelece que famílias pobres recebam, em meses alternados, o valor correspondente a pelo menos 50% do preço médio do gás de botijão de 13 kg. O programa Auxílio Gás passou a pagar, em dezembro, a quantia a famílias que fazem parte do CadÚnico (Cadastro Único). A última remessa, em fevereiro, repassou R$ 279 milhões para 5,5 milhões de famílias, em vales de R$ 50.

A reportagem da Folha mostra o exemplo da cuidadora de idosos Fernanda Pinheiro, de 34 anos, que hoje cozinha para sua família com alimentos que recebe de doações, queimando madeiras que encontra na rua em um fogão a lenha improvisado.

“Eu vou preparar a comida no fogão a lenha, porque o dinheiro do gás vai sobrar para comprar alguma outra coisa, um pacote de fralda ou de absorvente”, disse Fernanda, que mora do bairro Parque Santo Antônio, na Zona Sul de São Paulo, e conta que, há mais ou menos um ano e meio, a maioria de suas vizinhas também não consegue comprar o gás.

AUMENTO DE CASOS DE INCÊNDIOS

Alessandro Rubens, que é professor de geografia da rede municipal paulista e que faz parte de um projeto de doação de mantimentos para famílias de baixa renda (Periferia e Solidariedade), disse à reportagem que nesse período viu aumentar os relatos de incêndios em comunidades e ocupações urbanas.

“Na favela, o fogão a lenha implica aumentar riscos”. “Geralmente, eles [os moradores] colocam blocos de cimento e muitos estouram, e o risco de acidentes é muito grande”, comentou Rubens. No ano passado, o grupo mobilizou fundos para comprar remédios para uma pessoa que se queimou em um acidente desse tipo.

Nas comunidades, como a demanda por gás é enorme e impossível de ser atendida, o projeto propõe “vaquinhas” para doações de botijões de gás que são direcionadas a mães com mais de um filho. “Dentro de casa, com mais de uma criança, é muito perigoso cozinhar [de forma improvisada]”, justificou.

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