Sindicato dos Trabalhadores em Postos de Combustíveis da Bahia
/ terça-feira, maio 21, 2024
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“É crucial reduzir os juros e derrotar a ‘ditadura fiscal’ para o país crescer”, aponta Nilson Araújo

Nilson Araújo de Souza. Foto: Arquivo HP
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Segundo o economista, o passo decisivo para que o presidente Lula tenha êxito na sua meta de fazer o país crescer e criar empregos é a redução imediata dos juros e a alteração da política fiscal restritiva que vem estrangulando a economia brasileira

O economista e professor Nilson Araújo de Souza, membro da Comissão Política Nacional do PCdoB e diretor da fundação Maurício Grabois e do Instituto Claudio Campos, avaliou, em entrevista ao HP nesta quarta-feira (15), que o que está na ordem do dia, “como poucas vezes esteve no Brasil, é a necessidade de se romper as amarras criadas com as políticas fiscais restritivas para que o país possa retomar o rumo do crescimento”.

O professor Nilson concorda com a intenção manifestada pelo presidente Lula de liderar a retomada dos investimentos públicos no país para, segundo ele, ‘fazer a roda da economia girar e criar empregos’. Para o economista, o passo necessário e decisivo para que o presidente tenha êxito nesta sua empreitada de lançar um forte plano de desenvolvimento nacional é a redução imediata dos juros e a alteração da atual política fiscal restritiva que ainda impera no Brasil.

O professor de economia e dirigente político vê também grandes oportunidades para a retomada do crescimento da economia brasileira com a atual conjuntura de crise das grandes potências e o enfraquecimento da chamada “globalização”. O nascimento de um mundo multipolar, segundo ele, pode abrir grandes oportunidades para o Brasil. “Explorar bem as oportunidades que se abrem com o desabrochar de um mundo cada vez mais multipolar neste momento parece ser um caminho extremamente promissor para o Brasil”, apontou Nilson. Confira a entrevista na íntegra!

ENTREVISTA

HORA DO POVO: Como você está vendo a atual discussão sobre a nova política fiscal no Brasil?

NILSON ARAÚJO: O que está em jogo neste momento é se o país vai se libertar do rentismo e crescer ou se vai se manter atado à camisa de força neoliberal, que impõe – já não é de hoje – uma “ditadura fiscal” com o objetivo constante de estrangular a produção e o consumo em benefício da especulação financeira.

O Brasil está há anos sendo refém desta situação que impede os investimentos do Estado e, como consequência, também desestimula os investimentos privados. Este quadro é o que mantém a economia estagnada, com o desemprego e a miséria em níveis inaceitáveis.

Portanto, o que está na ordem do dia, como poucas vezes esteve, é a necessidade urgente de se romper essas amarras das políticas fiscais restritivas, reduzir os juros e retomar o rumo do crescimento e da melhoria da qualidade de vida da população. É isso o que o presidente Lula quer, e é isso o que o país necessita urgentemente.

“O país está há anos refém do rentismo, uma situação que impede os investimentos do Estado e, como consequência, também desestimula os investimentos privados”

HP: Como você analisa o início do governo Lula?

NILSON: O presidente Lula tem apontado, inclusive fez isso na reunião com os prefeitos, ocorrida nesta terça-feira (14), que fará de tudo para garantir que o país volte a crescer. No entanto, as forças econômicas da especulação, que estão ganhando muito na ciranda com títulos remunerados com o maior juro do mundo, também estão fazendo de tudo para impedir que Lula consiga fazer o que ele está determinado a fazer, que é liderar o crescimento econômico.

Ou seja, o mercado financeiro não quer que o país volte a crescer e que a vida da população brasileira melhore. Segundo os porta-vozes do chamado “mercado”, essas medidas podem aumentar os gastos do governo e afugentar os “investidores” – leia-se, especuladores -, que vivem da remuneração de seus títulos.

Estes investimentos que Lula quer fazer, diz o “mercado”, aumentariam a dívida e, com isso, “provocariam a incerteza e a volta da inflação”. Essa ladainha, que existe há décadas no Brasil, e que só visa garantir que os recursos públicos sejam drenados para a especulação, tem imposto uma estagnação crônica e destruído a capacidade produtiva do país. A montanha de “consultores” que os grupos rentistas estão despejando na grande mídia para defender essas suas “teses” mostra bem o que está em jogo no Brasil de hoje.

HP: Por que você acha que os porta-vozes do chamado “mercado” estão fazendo tanta pressão para que o governo Lula mantenha o arrocho fiscal e não amplie os investimentos públicos?

NILSON: Esta disputa entre os que querem manter o parasitismo e a especulação como centro da política econômica e os que pretendem construir uma economia produtiva, próspera e inclusiva, é uma disputa decisiva para o Brasil e para a população brasileira neste momento.

Dependendo do que prevalecer como resultado deste embate, e de qual política econômica o governo Lula terá condições de colocar em prática nos próximos dias, ou meses, estará selado o futuro do país.

“Dependendo do que prevalecer como resultado deste embate, e de qual política econômica o governo Lula terá condições de colocar em prática nos próximos dias, ou meses, estará selado o futuro do país”

Poderemos ter um amplo crescimento econômico, caso a intenção de Lula de retomar os investimentos públicos se concretize, ou poderemos ter muita instabilidade política, caso prevaleçam as teses neoliberais. A coisas estão sendo decididas exatamente neste momento.

O resultado desta contenda entre os interesses do país e de seu crescimento – defendidos por Lula – de um lado, e dos especuladores, que, apesar de serem apresentados como sendo o “mercado”, não passam de meia dúzia de monopólios financeiros e grandes grupos econômicos, interessa profundamente a todo o povo brasileiro.

Esses monopólios só pensam em enriquecimento próprio, rápido e voraz, obtido basicamente no parasitismo e na agiotagem, sem preocupação alguma com os destinos do país ou com a situação de seu povo – inclusive muitas vezes à custa de uma vasta destruição do meio ambiente.

Outra questão a ser analisada são os juros do Banco Central. Neste momento eles estão retendo recursos públicos que poderiam estar sendo canalizados para aliviar a situação fiscal e viabilizar os investimentos que o país tanto necessita.

A insistência do presidente do BC em manter os atuais juros está claramente beneficiando os especuladores e prejudicando as empresas, a população e o conjunto da economia nacional. A redução dos juros pelo BC pode, por exemplo, ser uma das fontes dos recursos que o Estado necessita para viabilizar os investimentos públicos que Lula tanto deseja.

HP: Você acha que a crise internacional que nós estamos assistindo ajuda ou atrapalha a situação do Brasil neste momento?

NILSON: O aprofundamento da crise das potências econômicas, situação que vem desestruturando as cadeias globais de suprimentos e serviços, está acirrando os conflitos geopolíticos e, com isso, causando, até certo ponto, um enfraquecimento da chamada “globalização”.

Isso pode trazer alguns problemas, como por exemplo uma certa insegurança na obtenção de alguns insumos usados no Brasil, mas, certamente, por outro lado, abre possibilidades econômicas enormes para o país, tanto oportunidades com novos parceiros econômicos, como possibilidades de elevar a produção interna dos insumos, e outros produtos, que, por um motivo ou outro, venham a escassear no mundo.

Um exemplo disso ocorreu no recente episódio do veto alemão à venda de blindados brasileiros para as Filipinas. A Alemanha vetou a venda por interesses geopolíticos conflitantes com o Brasil, e pelo fato dos blindados brasileiros possuírem componentes importados do país europeu. Imediatamente a produção dos blindados passou a ser feita com componentes fabricados no Brasil.

É bom que se recorde que, em outras épocas, como na Segunda Guerra Mundial, por exemplo, o Brasil também soube explorar bem as contradições daquele período e extrair ganhos dos conflitos geopolíticos internacionais que se apresentaram na ocasião. Explorar com sabedoria as oportunidades que se abrem com o desabrochar de um mundo cada vez mais multipolar neste momento, parece ser um caminho promissor para o Brasil.

“Explorar bem as oportunidades que se abrem com o desabrochar de um mundo cada vez mais multipolar neste momento, parece ser um caminho promissor para o Brasil”

HP: O que você acha que deveria ser feito no curto prazo para que o Brasil saia da crise?

NILSON: As medidas decisivas para o país este momento, e também necessárias para que o governo Lula saia vitorioso em seu embate com o rentismo são:

1) A queda dos juros para patamares que viabilizem a produção interna e o consumo da população; 2) o lançamento de um ousado plano de investimentos em obras públicas e na reindustrialização do país; 3) um arcabouço fiscal que garanta uma forte retomada dos investimentos públicos; 4) a elevação do poder de compra dos trabalhadores e aposentados; 5) a redução dos preços dos combustíveis – e consequentemente da inflação – através do “abrasileiramento” dos preços da Petrobrás.

PROPOSTAS DE MEDIDAS DE CURTO PRAZO

1) Queda dos juros para patamares que viabilizem a produção interna e o consumo da população

2) Lançamento de um ousado plano de investimentos em obras públicas e na reindustrialização do país

3) Um arcabouço fiscal que garanta uma forte retomada dos investimentos públicos

4) Elevação do poder de compra dos trabalhadores e aposentados

5) Redução dos preços dos combustíveis – e consequentemente da inflação – através do “abrasileiramento” dos preços da Petrobrás

É importante, por fim, destacar que a redução da distribuição predatória de dividendos da Petrobrás também poderá ajudar na obtenção dos recursos que viabilizarão a retomada dos investimentos produtivos no país.

www.horadopovo.com.br

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