Notícias

Renda deve continuar concentrada em 2020

647views

Projeção de pequena retomada do crescimento não prevê redução expressiva do alto desemprego e a renda deve continuar concentrada nas mãos dos mais ricos.

Os bancos acumulam lucros, os empresários dão as melhores notas ao governo Jair Bolsonaro nas pesquisas, mas os brasileiros viveram dias piores este ano. De janeiro a setembro, quem ganha até 1,6 mil por mês perdeu 1,6% da renda, enquanto quem ganha de 8 mil a 16 mil viu-a crescer 7,8%. São dados de uma pesquisa recente de um órgão oficial, o Ipea.

No ano que vem, a situação não deve ser lá muito diferente. Boa para o topo da pirâmide, e que o resto tenha paciência, como já pediu o ministro da Economia, Paulo Guedes, ao comentar o “pibinho” ao longo do ano. Geração de emprego em ritmo lento, salário idem.

Para 2020, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) prevê que o desemprego ficará no patamar elevado de 11,3%, com reflexo na renda. “Existe um estoque grande de desempregados que termina por moderar o ganho real de salário”, disse o economista-chefe da CNI, Flavio Castelo Branco, em 17 de dezembro, durante a divulgação de um balanço de 2019 e de estimativas para 2020.

Essa projeção de desemprego leva em conta o cálculo de que a economia como um todo crescerá 2,5% no ano que vem. E, apesar de o PIB avançar quase o dobro do visto em 2019, o mercado de trabalho não viverá uma situação muito diferente.

Em outubro, último dado oficial disponível no IBGE, o desemprego era de 11,6%, 0,3 ponto percentual apenas abaixo da estimativa da CNI para 2020. Havia 12,4 milhões de pessoas na rua. Outras 4,6 milhões haviam desistido de procurar vaga, por achar inútil, o chamado desalento. O salário médio era de 2,317 mil mensais.

Quando Bolsonaro e Guedes assumiram, o desemprego era de 11,6%, o número de desocupados era de 12,2 milhões e o de desalentados, de 4,7 milhões. A renda média estava em 2,254 mil reais. A variação de apenas 67 reais na renda ao longo do ano comprova que o trabalhador não tira proveito do princípio de aquecimento econômico.

“O grande problema hoje é o desemprego”, afirmou o presidente da CNI, Robson Andrade, durante a divulgação das previsões da entidade. “Não é fácil gerar emprego numa economia que busca ser mais inovadora, mais competitiva.”

Se o brasileiro precisa ter paciência, o empresariado não. A CNI espera um avanço da indústria de 2,8% em 2020. É quatro vezes mais que o projetado para o resultado final de 2019 e o maior índice desde 2011. Investimentos planejados para 2019 e que não se confirmaram devido ao consumo em ritmo lento têm chances crescentes de sair do papel, segundo a entidade.

“Tão importante quanto crescer a produção é como ela será distribuída. Não existem razões nem evidências para apoiar a estratégia de crescer o bolo para depois distribuí-lo. É essencial avaliar quem ganha e quem perde com cada política pública”, disse o Conselho Federal de Economia (Cofecon), em comunicado de 13 de dezembro. “É inaceitável crescer concentrando renda, mas essa é a perspectiva com a atual política econômica e suas reformas.”

Com o bolo a crescer sem repartição, não surpreende que uma pesquisa Datafolha feita entre 5 e 6 de dezembro tenha constatado: 58% dos empresários acham o governo Bolsonaro ótimo ou bom, e 20%, ruim ou péssimo. No índice geral, esses mesmos números são 30% e 36%, respectivamente.

Apesar disso, ainda há esperança de que Bolsonaro faça um bom governo. Para 43% dos entrevistados pelo Datafolha, o governo ainda será bom ou ótimo. É mais do que a opinião oposta, 32% esperam por algo ruim ou péssimo.

Essa diferença de sentimento entre o que o governo fez até agora e ainda pode fazer é chave na disputa política, e aí o rumo da economia vai pesar, na visão de um dos próceres da oposição, o senador Jaques Wagner, do PT da Bahia.

“Tudo vai depender da economia e do quanto o crescimento vai chegar ao emprego, às pessoas”, disse Wagner a CartaCapital. “As pessoas querem prosperidade, querem acreditar que vai dar certo. Mas, até agora, foi bom só para os de cima.”

www.vermelho.org.br/André Barrocal/ CartaCapital

Deixe uma resposta